LEIA ESTA CRÔNICA E REFLITA:
Silêncio
Eu gosto do silêncio porque ele me escuta.
Há momentos em que tudo que mais preciso é ficar sozinha, fazer
companhia para mim. Nessas horas chego a pensar que tenho um caso de
paixão comigo mesma e passo a ter certeza de que realmente sou uma
pessoa muito agradável, a parceira ideal para um instante de reflexão e
devaneios.
Ah, o silêncio! Meu companheiro de inspiração e poesia, ele me
acalma, aconselha e compreende. Perto dele não deixo ninguém adentrar à
nossa bolha de tranquilidade sonora.
Somos cúmplices, muito parecidos, na verdade ele é a minha cara
metade. Ao seu lado consigo levitar, viajar por mundos distantes aos
quais acredito já haver pertencido. Lugares fictícios e ao mesmo tempo
familiares, paisagens, flores, varandas, fazenda e gado. Tudo com cheiro
de mato e terra molhada, colonos sorrindo e crianças levadas.
Como ele abro a guarda somente para pequenos prazeres, o canto do
galo e o som do riacho, por exemplo. Mas tem também o badalar do sino da
igreja, esses sons de ternura e acalanto me parecem um tipo de silêncio
musical, quebram aquela monotonia gostosa sem fazer barulho. Eles
chegam a passos lentos para não perturbar, querem mais é parecer uma
canção de ninar…
É assim que o silêncio me escuta, auscultando minh’alma desvairada de
amor e desejo pela solidão em boa companhia, lado a lado com a minha
metade mais íntima e indecifrável: meus pensamentos e segredos.
Amigo silêncio, é quase 0 (zero) hora, sinta todo o simbolismo que
envolve esta crônica escrita na calada da noite. Noite calada e
pensativa como eu e você. Todos dormem para permitir o meu direito de
criar, e assim as palavras voltam a habitar meu mundo, chegam aos poucos
e discretamente vão-se dando as mãos e formando o que o leitor mais
gosta: a possibilidade de imaginar.
Psiu!
O silêncio é a alma do negócio, vamos guardar esse segredo só
para nós, eu e o silêncio prometemos não contar nada a ninguém, agora é
sua vez de calar e ouvir o som do nada respirando tímida e
silenciosamente ao longo desta noite de uma paz sem fim…